Com o início de uma das melhores temporadas do Festival de Cannes na quarta-feira, 13 de maio, assuntos espinhosos que rondam a indústria cinematográfica voltam a ser discutidos, e dessa vez quem dá início ao debate é a American Civil Liberties Union (ACLU), dos Estados Unidos. Através de uma carta de 15 páginas publicada ontem, dia 12, a organização critica a escassez de mulheres diretoras em Hollywood.
A decisão de trazer isso à tona é resultado de meses de entrevista e coleta de dados com 50 diretoras que preferem se manter anônimas, por enquanto.
Embora o número de mulheres estudando Cinema nos EUA seja próximo do número de homens, pouquíssimas chegam a conduzir longas-metragens ou séries televisivas, como mostram os dados contidos na carta. Apenas 7% dos 250 principais filmes do ano foram dirigidos por mulheres e um terço das séries feitas no ano deixou de contratar diretoras para seus episódios. A ACLU associa a conduta à discriminação, tanto da parte das empresas cinematográficas, quanto de produtores e redes de TV.
Não é a primeira vez neste ano que uma mensagem do tipo confronta Hollywood. Na temporada das premiações mais importantes da indústria cinematográfica, que antecedem o festival, atrizes se uniram em prol da campanha “Don’t Ask About The Dress, Ask About The Woman in It” (“não pergunte sobre o vestido, pergunte sobre a mulher que o veste”), a fim de romper com a imagem superficial e restrita à moda. Além disso, na cerimônia de entrega do Oscar, Patricia Arquette, que venceu como Melhor Atriz Coadjuvante, aproveitou seu discurso de agradecimento para protestar contra a desigualdade de gênero.
Porém, pouco se discute a respeito das mulheres por trás das câmeras. Em 2010, Kathryn Bigelow marcou a indústria quando levou para casa o prêmio da Academia para Melhor Diretor, sendo também a quarta e última indicada na história da premiação. Ainda assim, muito se referiu a ela como “a ex-esposa de James Cameron” – diretor de obras como “Titanic” e “Avatar”.
A ACLU comenta que não é por falta de profissionais qualificadas e afirma que hoje há menos mulheres trabalhando nessa área do que há duas décadas. A esperança é de que o governo estadunidense contribua para que esse cenário mude o quanto antes, pois, segundo Melissa Goodman, advogada da organização e participante da campanha, “Hollywood não tem autonomia quando se trata de direitos civis”, e crê que a pressão e o monitoramento por parte do governo sejam necessários.